Estados com maior aumento de mortes violentas são rota de comércio de drogas

Ceará e Acre registraram variação mais alta de assassinatos de 2016 a 2017, revela relatório

Os estados que tiveram maior crescimento de mortes violentas intencionais em 2017 são rota importante no tráfico de drogas no Brasil. O Ceará registra a maior variação: 48,6% no aumento de homicídios, latrocínios, mortes em confrontos policiais e lesões corporais que resultaram em morte, em relação a 2016.

Em seguida vem o Acre, com alta de 41,8% em 2017, em relação ao ano anterior. Os dados são do 12º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado nesta quinta-feira em São Paulo pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

— O Brasil faz fronteira com os principais produtores mundial de cocaína. E é a principal rota para esse droga chegar na Europa. O que vemos é que o Ceará se tornou espaço estratégico de escoamento dessa produção. E o Acre claramente vive uma nova rota do tráfico — explica a socióloga Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Segundo ela, a dinâmica do crime organizado se associa às formas com que o Estado responde à violência. Polícias fragilizadas, atrasos de salários e movimentos grevistas em segurança influenciaram nos dados coletados sobre o ano passado.

— O crescimento da violência tem duas direções: novas dinâmicas do crime organizado e a insistência da política pública, em várias esferas e poderes, de fazer mais do mesmo — opina o sociólogo Renato Sérgio de Lima, diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Segundo o sociólogo, facções criminosas estabelecidas em São Paulo e Rio de Janeiro têm se expandido para o Norte e Nordeste, onde a briga toma as ruas:

— O Brasil lida com receitas da primeira metade do século passado em segurança pública. A legislação que regula as polícias é, em sua maioria, anterior à Constituição de 1988. O da Polícia Militar é de 1983. O inquérito que faz com que as polícias civis e militares atuem e registrem um fato criminal é de 1871, do Império. E o Código Penal é do século passado.

CEARÁ CONTESTA PADRÃO

O relatório divulgado nesta quinta-feira pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública registra um recorde em mortes violentas no país. O Brasil registrou 63.880 mortes violentas em 2017. É como se, a cada hora, sete pessoas fossem mortas de forma intencional no país. O índice é o maior desde 2006, quando o Fórum Brasileiro de Segurança Pública começou a contabilizar estatísticas criminais de todo o país, e foi 2,9% maior do que o contabilizado no ano passado. A violência contra a mulher também cresceu.

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará esclareceu que os dados “refletem uma problemática nacional, e que o Ceará não tem medido esforços para manter a diminuição das mortes violentas e de outros crimes em território cearense”.

A pasta, porém, contesta o padrão de contabilização dos dados de violência pelos estados. A secretaria utiliza uma metodologia que reúne os chamados crimes violentos letais e intencionais (CVLI), seguindo “o padrão indicado pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) do Ministério da Segurança Pública”. Não é o mesmo método, segundo a pasta de segurança do Ceará, usado por alguns estudos, “o que resulta em uma falta de padrão nacional”.

A secretaria afirma que trabalha em ações preventivas que levam o estado, pelo quarto mês consecutivo, a apresentar redução nos índices de CVLIs este ano. “A diminuição no acumulado do ano já é sentida em relação aos primeiros sete meses de 2017”, diz a nota.

A Secretaria de Segurança Pública do Acre não respondeu à reportagem.

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