Walfredo Gurgel atende duas vítimas de armas por dia

O cenário de violência que atinge o Rio Grande do Norte se reflete na sensação de insegurança e sofrimento para famílias que perdem seus entes. O Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, em Lagoa Nova, pode ser um dos termômetros da criminalidade: a cada 12 horas, uma pessoa dá entrada no hospital com ferimentos causados por tiros ou arma branca. Do dia 1º de janeiro a 18 de junho deste ano, foram 333 pessoas atendidas no complexo hospitalar por causas externas violentas. O chefe da Cirurgia Geral, Ariano Oliveira, alertou para o aumento de casos do tipo nos últimos cinco anos.

O perfil das pessoas vítimas de violência que dão entrada no hospital, segundo o cirurgião Ariano Oliveira, é de homens pardos ou negros, entre 16 anos a 40 anos, em média. “A grande maioria são jovens da periferia, em idade produtiva. Esse pessoal se torna mais suscetível por causa da constante exposição ao crime”, avaliou o médico, explicando que em tempos passados a maior parte dos pacientes com ferimentos por arma chegavam ao hospital nos finais de semana, e que agora chegam em todos os horários e dias da semana.

Em 2017, o Hospital Walfredo Gurgel registrou 1.080 casos, ou seja, uma média de 2,9 pessoas por dia davam entrada no hospital por tiros ou facadas. Em 2018, o númeroficou em 2,5 por dia, em média. Foram 940 pessoas no total.

O advento dos cuidados pré-hospitalares feitos pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), na avaliação de Ariano Oliveira, possibilitaram ao paciente ter mais chances de sobreviver quando sofre um trauma dessa natureza. Quando são atendidos no Hospital Walfredo Gurgel, o cuidado inicial consiste em identificar possíveis lesões letais no quadro respiratório, e a partir daí dar um direcionamento sobre o tratamento.

Até década de 1990, a dominância no hospital era de pacientes acidentados em carros, pelo não uso do cinto de segurança. “Com o cinto, houve redução desses agravos. Mas as motos se tornaram uma epidemia, gritante, chegando a 29 acidentes por dia”, observou o médico.

O chefe da Cirurgia Geral pondera que os pacientes que chegam no Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel representam cerca de 40% dos traumas tratados na unidade hospitalar. O alto número, segundo Oliveira, torna a rotatividade mais baixa e compromete o andamento da fila de pacientes que precisam de uma cirurgia.

O Rio Grande do Norte ficou nas primeiras posições do ranking no tocante a homicídios de forma geral e também contra mulheres, jovens (15 a 29 anos) e negros no ano de 2017, um dos mais violentos dos últimos anos. Os dados foram publicados no Atlas da Violência, estudo produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Com exceção das mortes de mulheres, o RN aparece na primeira colocação em todos os quesitos.

Homicídios
Com relação ao número de homicídios, o Rio Grande do Norte ficou na primeira posição, segundo o Atlas da Violência, tendo uma taxa de 62,8 para cada 100 mil habitantes. Em números absolutos, segundo o relatório, 2.203 mortes foram registradas no Estado em 2017. O crescimento com relação a 2016 foi de 17,7%.

Outros números também chamaram a atenção nos tópicos trabalhados pelo Atlas. Entre eles está a taxa de homicídios por jovens entre 15 a 29 anos, situação que o relatório classificou como “juventude perdida”. O RN também ficou na primeira posição: taxa de 152,3 por 100 mil habitantes. Ao todo, foram 1.366 jovens mortos em 2017. Para se ter uma ideia, há dez anos, o número de jovens mortos era de 314. O salto em uma década é de 335%, o maior em todo país. De 2016 a 2017 o crescimento foi de 21%.

A violência contra negros também sofreu uma escalada no Rio Grande do Norte e no Brasil. O Estado ficou em primeiro lugar nesse quesito, com uma taxa de 87,0 mortos para cada 100 mil habitantes. Ao todo, 1.928 potiguares de cor negra foram mortos em 2017. Para se ter uma ideia, o número de homicídios de não negros (brancos, amarelos e indígenas, segundo o relatório) no RN foi de 195. Diante disso, a taxa de homicídios de negros supera em 5,8 vezes a dos não negros. No Brasil, 49.524 negros foram mortos neste ano.

Números
333 pessoas deram entrada no Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel atingidas por armas do dia 1º de janeiro ao final de maio

940 casos similares foram registrados ao longo do ano passado, com média diária de 2,5 ocorrências.

*Tribuna do Norte

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.