Propina da Ferrovia de Integração Oeste-Leste seria do PR

O Partido da República – PR que tem como seu presidente estadual João Maia e o deputado estadual George Soares, apontado de receber propina no Rio Grande do Norte, de obras realizadas pelo Dnit, agora está encrencado também na delação da Andrade Gutierrez sobre irregularidades nas obras da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), na Bahia.

Rodrigo Ferreira Lopes da Silva, ex-executivo da empreiteira Andrade Gutierrez, contou em sua delação premiada a ocorrência de irregularidades nas obras da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), na Bahia. Segundo ele, 3% do valor do contrato do lote 3 deveria ir ao PR, partido comandado pelo ex-deputado Valdemar da Costa Nesto e ao qual era ligado José Francisco das Neves, ex-presidente da Valec, estatal do setor ferroviário.

Em depoimento prestado em 3 de outubro de 2016, Rodrigo contou ter conhecimento de que, por determinado do então presidente da Valec, conhecido como Juquinha das Neves, houve fraude em edital de 2010 referente ao lote 3. A Andrade Gutierrez não participou dessa licitação. O delator falou que tinha o costume de ir ao gabinete de Valdemar na Câmara prestar contas ao ex-deputado. As informações são de O Globo.

Segundo termo de colaboração do delator, “esse lote de obras estava destinado pelo então deputado federal Valdemar da Costa Neto para o Consórcio Ferrovias do Brasil’, composto por cinco empresas, entre elas a Embratec, que seria da família do deputado João Carlos Bacelar Filho (PR-BA). Mas, em 23 de agosto de 2010, “houve a apresentação inesperada de proposta comercial” por parte do Consórcio Torc / Ivaí / Cavan, com chances de ganhar a licitação. Seria, assim, um “furo” no acordo para entregar a obra ao Consórcio Ferrovias do Brasil.

A licitação foi adiada em uma semana, “para que fosse avaliada uma forma de contornar essa situação”. Segundo o colaborador, Juquinha se reuniu com representantes do Consórcio Torc / Ivaí / Cavan. Eles teriam concordado com as “regras”, ou seja, com o pagamento de propina, mas mediante a alteração de sua proposta original, de modo a poder acomodar os custos dos pagamentos ilícitos.

De acordo com o ex-executivo da Andrade Gutierrez, houve reação de Bacelar e do consórcio ao qual é ligado, que acabou perdendo a obra. O delator contou que “soube que houve ameaças por conta desta situação, inclusive retaliações”. Ainda segundo ele, Valdemar o chamou em seu gabinete para saber o que ocorreu. Rodrigo Ferreira disse na ocasião que não sabia, “mas que era claro que nem todas as empresas estavam obedecendo as ordens do PR, através de José Francisco das Neves ou do próprio Valdemar da Costa Neto”.

Como compensação, as empresas que “sofreram o furo” seriam contempladas em outras obras da Valec, o que acabou não ocorrendo porque simplesmente não houve mais licitações. Segundo ele, o próprio Juquinha chegou a dizer que era “até bom” ocorrerem esses furos, “pois assim o esquema do PR estaria seguro”.

Por meio de sua assessoria, Valdemar Costa Neto disse que respeita o trabalho das autoridades, mas não comenta investigação em curso. João Carlos Bacelar Filho também informou que não comentaria assuntos em análise na Justiça. O GLOBO não conseguiu localizar nem a defesa de Juquinha das Neves, nem o Consórcio Torc / Ivaí / Cavan.

O trecho da delação que trata da Fiol deu origem a um processo à parte no STF, mas ainda não foi aberto nenhum inquérito. Rodrigo Ferreira Lopes da Silva apontou irregularidades em outras obras, como as da ferrovia Norte-Sul, também tocadas pela Valec; do estádio Mané Garrincha e de um corredor de ônibus em Brasília, sob responsabilidade do governo do Distrito Federal; e do Porto de Suape, em Pernambuco.

Os depoimentos que tratam da ferrovia Norte-Sul e das obras no DF foram encaminhados respectivamente à Justiça Federal de Goiás e de Brasília. Nas últimas semanas, foram deflagradas operações relacionadas aos dois temas, inclusive com a prisão do ex-governadores do DF José Roberto Arruda e Agnelo Queiroz, e do ex-vice governador Tadeu Filippelli, que depois virou assessor especial do presidente Michel Temer. Os três já foram soltos. Juquinha não chegou a ser preso, mas seu filho foi em 25 de maio em razão das investigações da Norte-Sul.

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