Na reta final, Obama tira as luvas e assume protagonismo na campanha de Joe Biden

Na reta final, Obama tira as luvas e assume protagonismo na campanha de Joe  Biden - Jornal O Globo

Dois eventos prometem provocar arrepios no presidente Donald Trump neste sábado de Halloween nos Estados Unidos: os comícios que Joe Biden e o ex-presidente Barack Obama farão no decisivo estado do Michigan. Será a primeira vez nesta campanha que Obama estará lado a lado do candidato democrata, em um esforço final para usar toda a sua popularidade e energizar a base democrata a votar em seu antigo vice, o que pode acabar sendo decisivo.

Político mais bem avaliado do país, Obama entrou de forma incisiva na campanha apenas na etapa decisiva, faltando 12 dias para o fechamento das urnas. Porém, desde muito antes, ele estava muito mais ativo em suas redes sociais — falando aos seus 124 milhões de seguidores no Twitter, mais que a soma de Trump (87,3 milhões) e Biden (11,7 milhões) — do que esteve em 2016, quando a liturgia do cargo freou sua atuação como cabo eleitoral de Hillary Clinton. Agora, seu carisma tem gerado resultados.

— Eu acho que Obama fez uma boa escolha quando trouxe Biden como vice-presidente. O fato de eu estar apoiando Biden agora tem muito a ver com ele ter sido vice de Obama — afirmou a farmacêutica Jasmine Smith, 29 anos, que mesmo já tendo votado de forma antecipada, tentava, pelas frestas de uma grade, ver o comício que o ex-presidente fez em Orlando na quarta-feira.

Os eventos de hoje, no moderno estilo de ‘drive-in’ por causa da pandemia do novo coronavírus, visam energizar eleitores que levaram Obama à Casa Branca em 2008 e 2012, mas que não se animaram a votar em Hillary. Atuando nos estados que elegeram Trump por pequena margem em 2016, Obama tem atraído inclusive protestos de trumpistas aos eventos que participa, o que comprova a força política do ex-presidente.

‘Good cop, bad cop’

Mais que um “selo de qualidade” de Obama para seu antigo vice, sua participação na campanha democrata é carregada de ineditismo. Ela também está cheia de estratégia, servindo para que Biden possa pregar a união do país e evitar críticas pesadas a Trump, o que poderia desagradar a independentes e republicanos arrependidos, em uma espécie política de “good cop, bad cop” — o clássico sistema dos filmes americanos onde um policial “bonzinho” tenta uma aproximação positiva, ao passo que o policial “mau” faz o chamado “trabalho sujo”, ou seja, fazendo críticas mais fortes contra Trump, o que seria ruim para a estratégia de Biden de criar um governo de união e sem ódio.

— O presidente Obama tem estado mais engajado nesta campanha presidencial do que qualquer presidente anterior ou cessante nos tempos modernos. Ele tem sido o representante e defensor mais valioso de Joe Biden em estados-chave do país que determinarão os resultados da eleição de terça-feira — afirmou ao GLOBO Robert Yoon, professor de cobertura midiática de campanhas presidenciais da Universidade de Michigan.

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Para ele, mais que o rompimento da “postura presidencial de neutralidade” dos ex-inquilinos da Casa Branca, Obama tem aproveitado para criticar duramente Trump:

— Obama também rompeu com a tradição de outros ex-presidentes de geralmente não criticar o desempenho do atual presidente. Em suas aparições de campanha em todo o país, o presidente Obama ofereceu uma crítica contundente.

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Explorando o que considera erros de Trump na condução da pandemia e na economia, Obama consegue falar diretamente aos eleitores que mais se beneficiaram em seu governo, quando criou o “Obamacare”, sistema de saúde norte-americano, e recuperou o país da crise de 2008, gerando um longo período de crescimento, geração de empregos e riqueza.

Coalizão vencedora

Este bom momento econômico continuou nos três primeiros anos de Trump, quando a crise causada pela pandemia acabou com o pleno emprego que o país vivia. A atuação de Obama serve para neutralizar a busca de Trump pelos créditos dos tempos de bonança.

— Para que o ex-vice-presidente Joe Biden consiga a vitória, ele precisa garantir que a coalizão de eleitores vencedora de Obama em 2008 e 2012 tenha energia para votar. Não há ninguém melhor para estimular essa coalizão do que o próprio homem que a montou. O ex-presidente Barack Obama é o democrata mais popular, senão for o homem mais popular, nos Estados Unidos hoje. Até agora, vemos um comparecimento recorde entre os democratas jovens e não brancos nas votações antecipadas em parte por causa disso — disse John Zogby, criador do Zogby Strategies.

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Porém, a participação de Obama evidencia um problema de Biden: sua falta de carisma. Embora o democrata não tenha a imagem negativa que carregava Hillary, não é o mais popular ou melhor orador em seu partido. Mas contando com o apoio do ex-companheiro de chapa e com a rejeição de Trump, tem tudo para chegar à Casa Branca.

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