Manter um governo ‘morto’ seria negar história do partido, diz deputado do PSDB

O relator o dep. Daniel Coelho (PSDB-PE) – Pedro Ladeira/Folhapress

Um dos líderes dos “cabeças pretas” do PSDB, o deputado federal Daniel Coelho (PE), 38, afirma que, embora não seja definitiva, a decisão de manter o apoio a um governo “morto” contraria a história do partido e o afasta dos anseios da sociedade, segundo entrevista publicada concedida ao jornalista Ranier Bragon, da Folha de São Paulo.

Folha – Como o sr. e o grupo mais afinado ao sr. encaram a decisão do partido de manter o apoio a Temer?

Daniel Coelho – A condução feita por Tasso [Jereissati, presidente do partido] e [Ricardo] Tripoli [líder da bancada na Câmara] tem sido correta e adequada, eles têm ouvido a todos, a gente não nega que tenha havido uma maioria. Ou seja, não foi uma decisão arbitrária. Mas foi uma decisão equivocada, para o país e para o PSDB. E que dificilmente convencerá as pessoas de que há diferença na conduta do PSDB para a conduta do PT, do PMDB. É uma decisão que vai de encontro aos princípios que fundaram o partido. Quando Mário Covas e Franco Montoro fundaram o PSDB, era num momento de desmoralização do governo Sarney e do PMDB. E a frase que simbolizou a criação do PSDB era “longe das benesses e próximo ao pulsar das ruas”. Essa tese inicial de conexão com a sociedade fica enfraquecida com essa decisão de ficar em um governo que já está morto.

Quem são os responsáveis por essa decisão equivocada?

Não acho que é o caso de apontar os responsáveis. A decisão é coletiva.

Mas é fato que o grupo de Alckmin e Aécio foram determinantes.

Se quiser simplificar, pode dizer que a maioria deles opinou por isso, mas não houve totalidade.

Qual é, na sua visão, a consequência dessa decisão para o partido?

A decisão não é permanente, o jogo está sendo jogado. Alonga a crise e faz com que o Brasil deixe de avançar. O PSDB está perdendo uma grande oportunidade nesse momento de mostrar na prática o que é um novo modelo de política que pede o mundo, não só o Brasil. O mundo está pedindo não mais alianças da política, mas alianças com a sociedade.

Deputados planejam deixar o partido?

No momento, ninguém está falando em deixar o partido. Até porque está havendo tolerância interna. Tasso e Tripoli acham que os dois grupos não têm unanimidade e estão abrindo o debate, não estão fazendo uma condução parcial ou manipulando decisões.

O PSDB decidiu manter o apoio a Temer para não perder o apoio eleitoral do PMDB e para salvar Aécio?

Não acho correta essa avaliação, porque acho que os assuntos do Senado têm outra lógica. Se a decisão foi tomada por alguma perspectiva de aliança para 2018, é um erro estratégico. Do ponto de vista eleitoral, é uma aliança com a política e um divórcio com a sociedade.

Qual a sua opinião sobre as acusações contra Aécio?

As acusações são sérias, ele precisa ter o direito de defesa e precisa se defender. É evidente que ninguém ficou feliz com um líder importante do partido sendo acusado dessa forma. Eu fiz campanha pra ele, militei junto com ele, e espero que ele consiga esclarecer os fatos.

Como sr. votará na provável denúncia contra Temer?

Havendo uma denúncia e um pedido de investigação, votarei para que haja investigação. Se ele for inocente que ele prove. Arquivar sem esclarecimentos dos fatos seria uma medida seletiva, que é o que mais critico na oposição.

Mesmo que haja orientação contrária do partido?

Não acredito que vá haver orientação contrária. Isso seria a negação da própria história do PSDB.

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