Lula se matou como símbolo, diz FHC em debate sobre crise no Brasil

PODER - Sao Paulo - SP - Lançamento do livro: Brasil, Brasileiros - Por que Somos assim?, organizado e publicado pela Fundaçao Astrogildo Pereira e pela Verbena Editora. Na foto, dialogo entre o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o senador Cristovam Buarque.14/12//2017 Foto: Marlene Bergamo/FolhaPress -017

Fernando Henrique Cardoso (PSDB) tem dito que não gostaria de ver Lula (PT) preso e que seria “chato” um ex-presidente ir parar na cadeia, mas deu a entender nesta quinta-feira (14) que o petista já teve seu maior castigo: está morto politicamente, na visão do tucano.

“O Lula, ele mesmo se matou, como símbolo. De tudo que ele representava, de novo, de puridade, não sei o quê. Como é que vai representar hoje, com tantas evidências na outra direção?”, afirmou.

Condenado em primeira instância pelo juiz Sergio Moro no caso do tríplex em Guarujá (SP), Lula teve o julgamento de seu recurso no Tribunal Regional Federal da 4ª Região marcado para o dia 24 de janeiro.

Para o tucano, “o que está aparecendo” sobre o adversário contraria “a esperança de uma nova ética, de um novo tipo de comportamento” que o petista dizia significar. “[Lula] se matou no sentido político”, disse FHC em debate na fundação que leva seu nome, na região central de São Paulo. As informações são da Folha de São Paulo.

Debate, não, corrigiu o ex-presidente antes de iniciar sua fala. “Porque isso pressupõe que um esteja contra o outro ou tenha alguma divergência. E eu não tenho”, disse, dirigindo-se ao colega de mesa, o senador Cristovam Buarque (DF), pré-candidato do PPS à Presidência da República em 2018.

Os dois conversaram sobre a crise brasileira e o futuro do país durante o lançamento de “Brasil, Brasileiros — Por Que Somos Assim?”, livro organizado pelo senador com os pesquisadores Francisco Almeida e Zander Navarro.

Na saída do evento, FHC disse que o Brasil vive um momento em “em que é preciso que haja liderança”. “Se o PSDB for capaz de exercer a liderança, muito bem. Se não for, alguém outro vai exercer”, afirmou ele, que no sábado (9) discursou em defesa da pré-candidatura ao Planalto do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB).

O ex-presidente minimizou os levantamentos de intenção de voto, falando que eles “não significam muita coisa” e que a eleição ainda está distante. Com 6% na pesquisa Datafolha divulgada no início do mês, Alckmin aparece muito distante de Lula, que lidera com 34%.

IRA X URNA

Durante a conferência, em autocrítica à classe política, o ex-presidente disse que a crise de confiança nas lideranças é grande “porque se quebrou o encanto”.

“Tem que reencantar. E não no mau sentido, de mistificar, mas no sentido de as pessoas poderem verificar que efetivamente você acredita e você cumpre aquilo que você está propondo.”

Para Cristovam, a superação do problema de representatividade depende da coesão entre os cidadãos e da mudança de comportamento dos políticos. “A grande raiva, a ira, não é o estelionato apenas que houve em 2014 [na reeleição de Dilma Rousseff]. A grande raiva é a distância entre os privilégios, mordomias, vantagens, desprezo da elite dirigente, e o povo”, afirmou.

Segundo o senador, a divisão da sociedade brasileira é movida hoje pela “ira”. E o sentimento, diz, “não combina” com eleição. “A urna que sai da ira em geral leva a desastres. Mas hoje nós estamos caminhando para isso.”

‘POBRE MATANDO POBRE’

Ao apontar a segurança pública como um dos principais problemas hoje no país, Fernando Henrique disse que a criminalidade preocupa mais a população “nas zonas pobres. É pobre matando pobre, em grande quantidade”.

“Segurança hoje não é segurança para nós, é segurança para o povo”, afirmou à plateia de convidados no auditório da fundação. “Quem tem medo de morrer não somos nós. Quem tem medo, no dia a dia, de morrer é onde há crime.”

Para o tucano, se o discurso do combate à violência “for apropriado pelos autoritários, eles ganham”. “Não pode deixar, porque não resolve matando. É pior”, disse, sem citar nomes. Também nesta quinta-feira (14), o pré-candidato a presidente Jair Bolsonaro (PSC-RJ) prometeu dar “carta branca” para a PM matar, caso seja eleito. “Policial que não atira em quem atira nele não é policial”, afirmou o deputado federal.

A saúde pública, na opinião do ex-presidente, é equivocadamente apontada como “o que vai pior” no Brasil. “Isso não é verdade. Quem não usa acha que é ruim, quem usa não reclama tanto. Eu digo sempre: eu uso SUS, eu vou ao hospital do SUS”, afirmou. “Bem ou mal, hoje existe o SUS.”

Ao falar de educação, bandeira de atuação do senador Cristovam, FHC mencionou a diminuição do analfabetismo e a inclusão escolar como avanços ocorridos nos últimos anos.

“Quando eu estava no governo, entre os negros 25% estavam fora da escola. Hoje se aproxima dos 98% os que estão na escola. [Dizem:] ‘Ah, mas a escola é uma porcaria’. É verdade. A qualidade deixa a desejar.”

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