Justiça Eleitoral fere liberdade de expressão de pastores

Apóstolo Cesar Augusto Machado de Souza em evento religioso

Fundador da Igreja Fonte da Vida, o apóstolo Cesar Augusto afirma que a Justiça Eleitoral fere a liberdade de expressão e a de representatividade ao coibir a participação política dos pastores.

Em agosto, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) cassou o mandato do deputado federal Franklin (PP-MG) e o do estadual Márcio José Oliveira (PP-MG). Na campanha de 2014, ambos participaram de um evento religioso no qual o líder de uma igreja pediu aos fiéis votos para eles.

Na opinião de Cesar Augusto, o pastor tem tanto direito de emitir sua opinião como um professor, um empresário ou um médico. 

Eleitor de Jair Bolsonaro, ele diz que o candidato não é o “monstro” que muitos achavam ser. 

Em agosto, um deputado federal e um estadual foram cassados, pois um líder religioso pediu votos aos seus fiéis. Como o sr. vê esse fato? Respeito a Justiça, base da democracia. Mas a Justiça pode se equivocar, como nesse caso, ferindo dois direitos fundamentais: a liberdade de expressão e a de representatividade. A igreja é um segmento. Representa a sociedade, o cidadão.

Por que as outras instituições podem apresentar os seus candidatos e a igreja não? É um equívoco, que evidencia um preconceito injustificado quanto à capacidade intelectual de escolha dos fiéis. Ninguém é forçado a frequentar uma igreja, sendo livre para sair se houver invasão de sua individualidade.
 
Em outra decisão, o TRE- SP cassou um candidato ao concluir que foi ajudado por um pastor, que distribuiu propaganda fora do templo. Aos olhos da lei, os templos são tidos como de “bem comum”, lugares de frequência pública. Dentro do templo não se pode identificar candidatos, nem falar sobre eles. Mas a mesma lei não impede que se fale dentro dos templos sobre valores cívicos ou morais, nem que se apresente os candidatos do lado de fora da igreja. Se esse juiz agiu dessa forma, se equivocou, mas todo ser humano é passível de erro.

A participação política dos pastores não desequilibra a disputa eleitoral? O pastor, acima de tudo, é um cidadão. Paga seus impostos e tem direito de se expressar igual a um médico, a um professor em sala de aula ou a um empresário quando reúne seus funcionários. Isso é liberdade de expressão.

Os membros da igreja aceitam ou não. O pastor não tem o poder de fazer com que a igreja aceite sua opinião. Pelo contrário, no meio evangélico, quando há uma atitude ditatorial, a tendência da igreja é fazer o oposto. 

O sr. já pediu voto? Dentro da igreja, não. Fora, já pedi, peço e pedirei. Sou um cidadão brasileiro, envolvo-me com as questões do país, tenho responsabilidade com as pessoas que me admiram e gostam daquilo que falo.

Não sou unanimidade, como ninguém é. Nem Cristo foi e nem Cristo é, mas tem pessoas que querem ouvir minha opinião. Falarei fora do templo. Dentro do templo, falo sobre valores.

Um atleta [Felipe Melo, do Palmeiras] declarou seu voto após uma partida e quase foi punido por isso. A liberdade de expressão está sob ataque? Acho que sim e vou além. Se o Felipe declarasse apoio a um candidato de esquerda, não seria perseguido. Mas teve coragem e contribuiu com a democracia. Respeitar opiniões diferentes das que gostamos faz parte da democracia.

Somos obrigados pela ditadura intelectualizada esquerdista a achar que só é bonito posicionar-se do lado de quem representa a esquerda? A esquerda foi um grande mal para o país, que ainda traz esse ranço de atraso. Parabéns, Felipe Melo! Que outros tenham coragem de se posicionar.

Preocupa o clima de radicalização política? A democracia é uma disputa de ideias, não uma imposição. Você não parte para a violência. Ganha quem tem os melhores argumentos e consegue convencer o eleitor. Preocupa uma disputa de uns contra outros. 

A Confederação dos Conselhos de Pastores do Brasil declarou apoio ao Bolsonaro. O sr. concorda? Sim. Mas há várias instituições que representam os evangélicos. Nem todas são vinculadas a essa confederação. E todas têm o direito de emitir sua opinião. O que não pode é ficar em cima do muro. Quem fica em cima do muro não serve para liderar.

Bolsonaro defende a liberação do uso de arma e já se posicionou favorável à tortura e à pena de morte. Não é uma contradição aos valores cristãos? Ninguém é perfeito. A esquerda posiciona-se a favor do aborto, da ideologia de gênero; os candidatos da esquerda apoiam o kit gay e a tudo isso nós cristãos somos totalmente contrários.

Então, cada candidato tem a sua liberdade para expressar. Lógico que o meio evangélico é pacificador, somos da paz. Mas, entre aqueles que estão postulando a Presidência, vamos escolher os que se aproximam mais dos nossos valores.

Haddad cresceu nas pesquisas por conta de sua identificação com Lula. O eleitor que o apoia não acredita na culpa do ex-presidente ou não liga para a questão ética? Lula assumiu o país com um caixa muito bom deixado pela administração anterior. Com esse dinheiro, fez bons projetos, montou uma boa equipe, mas depois fez o que todos sabemos e o que a Lava Jato mostrou. Essa camada da população que foi beneficiada tem a tendência de se posicionar ao lado do PT.

Mas, com o passar do tempo, muitos que achavam que o Bolsonaro seria um monstro estão vendo que ele não é. Pelo contrário, a monstruosidade tentou destruí-lo e isso mostrou a humanidade que o Bolsonaro tem. 

Rogério Gentile – Folha de São Paulo

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