Funaro diz que ministro Eliseu Padilha tentou monitorar sua delação

BRASÍLIA, DF, BRASIL 28-04-2010 13h40: A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das ONGs, no Senado Federal, ouve Lúcio Bolonha Funaro (foto), corretor de câmbio que intermediou operações para dirigentes da Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop). Local: Sala 2 da Ala Nilo Coelho. Politica. Foto: Lula Marques / Folha imagem. *** FOTO EM ARTE E NÃO INDEXADA ***

O operador financeiro Lúcio Funaro disse em sua delação premiada que o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) “ficou incumbido” de monitorar as chances de ele fazer um acordo com a Procuradoria-Geral da República.

Segundo o depoimento, que integra o termo número 1 da colaboração de Funaro, homologada pelo Supremo Tribunal Federal, “Eliseu Padilha ficou incumbido de fazer esse acompanhamento, valendo-se, para tanto, da sua amizade com os líderes dos escritórios e causídicos que o defenderam”.

Funaro, implicado na investigação como operador do PMDB da Câmara, aponta Antônio Cláudio Mariz, Eduardo Ferrão e Danier Gerber, este último atual advogado de Padilha, como os criminalistas responsáveis por ajudar nesse monitoramento. Todos chegaram a atender Funaro.

O delator disse ainda que Ferrão é “amigo de longa data” de Padilha. As declarações de Funaro, hoje preso no presídio da Papuda, em Brasília, são citadas no relatório da Polícia Federal no inquérito que investigou suposta quadrilha do “PMDB da Câmara”. O documento foi entregue segunda (11) pela PF ao STF.

A PF aponta indícios de crimes cometidos pelo presidente Michel Temer e outros membros do partido, entre eles Padilha e o ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência), além dos ex-deputados Eduardo Cunha,Geddel Vieira Lima e Henrique Eduardo Alves, todos os três hoje presos. As informações são de BELA MEGALE, CAMILA MATTOSO e REYNALDO TUROLLO JR., Folha de São Paulo.

Funaro contou, segundo o relatório, que Mariz de Oliveira, hoje advogado del Temer, supostamente comunicou o governante sobre o interesse de ele fazer acordo de delação.

DELAÇÃO

O operador relatou que no final de junho de 2016, pouco antes de ser preso, estava em negociação com o escritório do advogado Figueiredo Basto sobre a possibilidade de fazer uma delação e que, sem querer, enviou uma proposta de honorários para seu advogado à época, Mariz de Oliveira.

Contou que logo depois recebeu de Geddel uma mensagem em um aplicativo que destrói textos após a leitura, em que Geddel “perguntou se o depoente estava fazendo delação”. Disse que “negou a informação e perguntou a razão da indagação e que Geddel afirmou que a notícia havia chegado no Palácio do Planalto”.

Diante do fato, Funaro afirma que “percebeu que havia mandado a mensagem contendo a proposta de honorários do escritório Figueiredo Basto, especializado em colaboração premiada, de forma equivocada para o advogado Mariz e que percebeu que a informação havia sido passada por Mariz a Michel Temer e que Temer prontamente acionou Geddel para sondar o depoente”.

Funaro relatou que ficou “com muita raiva e ligou para Mariz xingando o advogado de ‘vagabundo'”.

OUTRO LADO

O advogado Mariz de Oliveira confirmou que a conversa com Funaro o xingando existiu, mas relatou que logo depois o operador fez outro telefonema “pedindo desculpas” e dizendo que não era ele que tinha dado informação ao Palácio do Planalto.

Mariz afirmou que naquela época já havia se desligado da defesa de Funaro e devolvido parte dos honorários.

O criminalista também afirmou que só veio a conhecer Padilha recentemente.

Em nota, a assessoria de Padilha divulgou que “é inverídica e fantasiosa a afirmação de que o ministro Eliseu Padilha teria monitorado as chances de Lúcio Funaro fazer um acordo com a Procuradoria-Geral da República (PGR) através dos advogados Antônio Claudio Mariz, Eduardo Ferrão e Daniel Gerber”.

Segundo a nota, o ministro Eliseu Padilha “só conheceu o dr. Antônio Claudio Mariz no final do mês de maio deste ano”. E que “a relação do ministro Eliseu Padilha com o dr. Eduardo Ferrão é de larga data. Mas, ao que sabe, o escritório de advocacia do dr. Ferrão não advogou, nem advoga, para Lúcio Funaro na Operação Lava Jato”.

“Por último, o ministro ressalta que o dr. Daniel Gerber, que foi advogado de Lúcio Funaro, só foi contatado por Eliseu Padilha após deixar tal patrocínio. Nunca, a nenhum destes advogados, o ministro Eliseu Padilha solicitou monitoramento do que fazia ou não fazia Lúcio Funaro, pessoa com a qual nunca teve nenhum contato, como também não o conhece.”

Daniel Gerber, que chegou a advogar para Funaro e hoje é processado por ele, disse que quando defendia o operador ofereceu aos procuradores uma proposta de acordo de delação. “Não apenas sondei Funaro sobre o interesse em fazer acordo como o aconselhei a delatar há um ano. Se tivesse me ouvido naquela época ele já estaria solto. Isso mostra que naquele momento eu estava trabalhando contra os interesses do Palácio do Planalto”.

Folha ainda não conseguiu contato com Eduardo Ferrão.

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