Fernando Haddad segue a tradição stalinista de desqualificar adversários

No programa Manhattan Connection que foi ao ar na quarta-feira passada, Fernando Haddad foi indagado por Diogo Mainardi sobre quem, afinal de contas, seria o candidato do PT nas eleições presidenciais de 2022, se Lula ou ele próprio, como “poste de ladrão”. Incomodado com a pergunta, Haddad aproveitou-se do estilo “deixa que eu chuto” de Mainardi para dizer que o jornalista deveria procurar “tratamento” por ser “problemático”. Tachou-o de louco, sem usar a palavra.

Os blogs petistas viram na reação de Fernando Haddad um grande sinal de equilíbrio e elegância, naturalmente, assim como veem em Lula a pessoa mais honesta do mundo. Talvez entusiasmado com o seu desempenho, Fernando Haddad voltou à carga no Twitter. Ele anunciou que participaria no último domingo de uma live no Youtube intitulada Conexão Xangai com quatro economistas de universidade. “De Manhattan para Xangai: nenhum dos participantes dessa mesa precisa de tratamento psiquiátrico; podem confiar. Vamos discutir ideias econômicas para ajudar nosso país. Assistam!“, escreveu Fernando Haddad na rede social.

Um dos economistas que discutiram com o petista ideias econômicas para nosso país parece ser entusiasta do processo de industrialização levado pelo ditador Kim Jong II Sung, de acordo com um texto que circulou na internet. Mas não é a qualidade intelectual dos interlocutores de Fernando Haddad que interessa aqui. O que interessa é o desrespeito do petista com quem sofre de distúrbios de ordem psiquiátrica (o que não é o caso de Diogo Mainardi) e o que isso revela ideologicamente.

De acordo com dados divulgado pela Organização Mundial de Saúde em maio de 2020, antes do agravamento da pandemia, 24% dos brasileiros sofriam de ansiedade e 6% padeciam de depressão, para ficar nos distúrbios psiquiátricos mais comuns. É de supor que essas porcentagens tenham aumentado quase um ano depois, por causa da maior crise sanitária em um século. Essas pessoas estariam incapacitadas para participar de um debate ou de uma entrevista com Fernando Haddad? Elas teriam perdido o juízo por discordar do petista ou lhe endereçar perguntas incômodas? Não teriam legitimidade para defini-lo como “poste de ladrão”, assim como fez Diogo Mainardi — ou teria sido uma alucinação a campanha de 2018, quando Fernando Haddad prestou-se ao papel de usar uma máscara para mostrar que, por trás dele, estava Lula, condenado e preso por corrupção e lavagem de dinheiro, um ladrão, portanto?

Fernando Haddad faltou com o respeito com os brasileiros que sofrem, em maior ou menor grau, de problemas psiquiátricos, como se isso os tornasse automaticamente alienados da realidade — o que revela, inclusive, uma profunda ignorância sobre as diferenças abismais entre neuroses, muito mais frequentes do que mostram as estatísticas e estão longe de ser incapacitantes, e quadros de psicose que certamente impossibilitariam os cidadãos que dela sofrem de constatar que Fernando Haddad comporta-se mesmo como  “poste de ladrão”, tal é a distância que os separa da realidade tangível.

Não se trata, porém, apenas de desprezo nascido da ignorância — como, de resto, está na base de qualquer preconceito. Ao afirmar que os cidadãos que dele discordam ou enxergam em Lula um corrupto e lavador de dinheiro, visão confirmada pelo devido processo legal em todas as instâncias da Justiça brasileira, não importa a jurisprudência de ocasião que se firmará em Brasília para anular a Lava Jato que apanhou o chefão do PT, Fernando Haddad segue a tradição que o pariu: o stalinismo.

Fernando Haddad, apesar do jeito de bom moço, é stalinista da pior cepa, como ficou demonstrado pelo seu primeiro programa de governo lançado na campanha de 2018. A liberdade de imprensa, por exemplo, ele não engole. Queria controlá-la na presidência da República, projeto do qual o PT nunca desistiu, e recentemente desligou-se do quadro de colunistas da Folha, irritado com um editorial do jornal que dizia que, em 2018, Fernando Haddad “assumiu o papel de poste e surfou nos votos que Lula ainda era capaz de amealhar” e que ele havia lançado a candidatura de Lula no final de 2020, “talvez esperançoso por uma nova chance”. Para justificar o fim da sua colaboração com a Folha, Fernando Haddad não mandou a direção do jornal buscar tratamento psiquiátrico, mas lhe imputou incapacidade mental. O jornal foi “incapaz” de perceber que ele estava atuando em “defesa do Estado de Direito” ao lançar a candidatura de Lula. Interpretou o gesto “como tentativa oportunista de eu próprio obter nova chance de disputar a eleição presidencial, ou seja, que seria um gesto motivado por interesse pessoal mesquinho.” A incapacidade de aceitar a opinião do outro é típica de personalidades autoritárias. Felizmente, Fernando Haddad não controla a imprensa.

A matriz stalinista fica evidente quando o petista tenta desqualificar o seu oponente como alguém que precisa de “tratamento psiquiátrico”. É isso o que se fazia na União Soviética. Os oponentes eram classificados como portadores de desordem mental, para o qual se usava o eufemismo de “intoxicação filosófica”. Os acusados de agitação anti-soviética frequentemente eram diagnosticados como loucos (o rol inclui a esquizofrenia) e se viam internados em manicômios, no que foi classificado pelo escritor russo Alexander Soljenítisin de “assassinato espiritual”. A psiquiatria na União Soviética foi distorcida e usada para vilipendiar, encarcerar e torturar os adversários do regime. Quem não concordava com o socialismo soviético era “problemático” e precisava de “tratamento”.

Deslegitimar o adversário ou quem dele ousa discordar como portador de afecção mental é tática usual de stalinistas como Fernando Haddad. Vai, portanto, muito além do desrespeito aos cidadãos que podem ter distúrbios psíquicos. É método de quem não tem argumentos racionais e defende o indefensável baseado somente em ideologia. De quem gostaria de colocar todos os oponentes em manicômios políticos e gulags. Ou, na falta dessas criações stalinistas, em Guantánamo.

O antagonista

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