Escravo da Arte promove o Quilombo em Mossoró para nutrir a consciência negra e sustentar a preservação da luta de Zumbi dos Palmares

*Por Gilberto de Sousa

Com o manejo de uma pequena lâmina e um pedaço de madeira, a arte vai tomando forma seja como figura humana ou paisagens. Além de ser uma planta medicinal a imburana ou amburana como é chamada, se transforma em verdadeiras obras de artes pelas mãos de Gilvan Almeida Vital, ou “Escravo da Arte”, como também é conhecido. Mas não há uma clara preferência pelo tipo de madeira, tocos e garranchos encontrados ao léu, são reciclados e esculpidos com virtuosa paciência e concentração, deixando-se viajar pelo rude à compleição. Logo a madeira volta a ganhar vida através dos seus contornos.

Uma peça pode estar pronta em uma semana, principalmente quando é feita por encomenda. Outras demoram anos, quando só Escravo da Arte sabe aonde quer chegar e por quais caminhos na madeira ele deve percorrer soltando a imaginação perfeccionista.

A preferência pela cultura africana é uma missão que nutre seus projetos: Quilombo da Arte, o principal, que vem sendo montado na comunidade de Rincão, onde reside e em cujo local, havia mesmo um quilombo. Ele quer transformar o espaço numa espécie de museu do gênero, com atividades afins, dosada com muita música e rodas de capoeiras.

Para dar sequência aos passos desse sonho, e enquanto aguarda apoio do poder público no desenrolar de projetos adormecidos em gavetas de organismos culturais, Gilvan Almeida trabalha para sobreviver com a sua arte, confeccionando placas em madeiras para estabelecimentos rústicos num local cedido por um amigo na Rua Frei Miguelinho, bairro Doze Anos, bem como objetos que serão expostos. E aproveita o tempo vago para ir traçando suas peças artísticas.

Consciência Negra

Entre os passos para levar adiante seus sonhos de artista, Gilvan Almeida lançou no dia 20 de Novembro, Dia da Consciência Negra, o projeto Quilombo da Arte, Alforria Cultural Itinerante, na Praça do Teatro Dix-huit Rosado, de onde está partindo para girar outros pontos de Mossoró e do Estado. Além da exposição, ele toca gaita com “o auxílio luxuoso de um pandeiro” faz um som e declama poesias autorais.

Artistas locais, músicos e poetas estão sendo convidados para se inserir em mais este movimento cultural que Mossoró passa a abrigar gerando opção para o turismo e para os pesquisadores do tema. Além disso, Mossoró foi base da resistência à exploração dos escravos ao antecipar a libertação.

Por sinal, Escravo da Arte é um estudioso da luta de Zumbi dos Palmares, assim como está envolvido na preservação do ícone da batalha que baliza a Consciência Negra. Ele também acompanha os trâmites que potencializam a história do guerreiro. Zumbi dos Palmares para Escravo da Arte se constitui numa espécie de devoção.

Zumbi, também conhecido como Zumbi dos Palmares (Serra da Barriga, 1655 – Serra Dois Irmãos, 20 de novembro de 1695), foi um líder quilombola brasileiro, o último dos líderes do Quilombo dos Palmares, o maior dos quilombos do período colonial. Zumbi nasceu na então Capitania de Pernambuco, em região hoje pertencente ao município de União dos Palmares, no estado de Alagoas. (Dados do wikpedia).

Já informações de Bruno Lourenço, da Rádio Senado, complementam que Zumbi liderou o Quilombo dos Palmares durante os últimos anos de existência do lugar que resistiu por cerca de um século à dominação holandesa e portuguesa. O quilombo era de início um refúgio para escravos fugidos, mas depois acolheu também índios e brancos pobres. Após a destruição de Palmares em 1694 pelo bandeirante Domingos Jorge Velho, Zumbi passou a viver escondido, até que foi morto em 20 de novembro de 1695.

A data integra desde 2011 o calendário oficial brasileiro. Mas o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra ainda não é feriado nacional. O senador Randolfe Rodrigues, da Rede Sustentabilidade do Amapá, defende a homenagem e a celebração do sacrifício de Zumbi em sua luta contra a escravidão.

O dia 20 de novembro tem que ser celebrado, sim, de todas as formas porque foi a data da maior rebelião negra. E, principalmente, uma data pela humanidade. Foi uma data em que um pouco resolveu não se curvar ao jugo das correntes e da escravidão. E contra o jugo das correntes da escravidão se levantaram em rebelião.

A data já é feriado em várias cidades e estados pelo país. Para o senador Paulo Paim, do PT do Rio Grande do Sul, esse dia seria uma forma de educar o povo para que crimes de discriminação deixem de existir.

Seria um dia para refletir, discutir e combater todo tipo de preconceito contra negro, índio, branco, imigrante, emigrante, xenofobia, enfim, LGBTI+. Será um dia importante. No Brasil, a ausência de uma lei federal como essa, que determine o dia 20 de novembro como feriado nacional, faz com que apenas 1,1 mil municípios dos mais de 5 mil incorporem o Dia da Consciência Negra como feriado nacional.

A proposta de tornar 20 de novembro feriado nacional já foi aprovada pelo Senado e aguarda a votação na Câmara dos Deputados. Paulo Paim aproveitou a passagem do Dia de Zumbi e da Consciência Negra para destacar alguns projetos de lei já aprovados pelos senadores com o objetivo de combater o racismo. Um deles (PLS 787/2015) inclui as motivações de preconceito racial e sexual como circunstâncias agravantes de pena para qualquer tipo de crime, outro proíbe agentes de segurança pública ou particular de adotarem ações baseadas em preconceito (PL 5231/2020) e outros dois (PL 4373/2020 e PL 4566/2021) tipificam a conduta de injúria racial.

A falta de representatividade negra, principalmente nos espaços de poder, reflete o desafio de conseguirmos – e vamos conseguir, tenho certeza, com a ajuda de brancos, negros, índios, imigrantes e emigrantes – implantar políticas públicas de combate a todo tipo de preconceito, porque, é bom lembrar, que nós, negros e negras, somos 56% da população brasileira.

Outro projeto de lei que pretende coibir atos racistas é a proposta de Lei Geral do Esporte (PL 1153/2019). A nova legislação cria uma instituição para formular e executar políticas públicas de combate ao racismo, à xenofobia e à intolerância no esporte; prevêem sanções a pessoas, associações, clubes ou empresas que praticarem intolerância e proíbe a ostentação de cartazes, bandeiras, símbolos ou outros sinais com mensagens ofensivas, além de cânticos que atentem contra a dignidade da pessoa humana, especialmente de caráter racista, homofóbico, sexista ou xenófobo.

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