‘Enquanto houver bambu, haverá flechas’, diz Janot sobre fim de mandato

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou neste sábado que a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de soltar o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) ‘faz parte do processo’, mas em sua avaliação havia provas suficientes para pedir a prisão cautelar do parlamentar, já que se tratava de uma autoridade no ‘curso de cometimento de crime’. O procurador, que fica no cargo até dia 17 de setembro, afirmou que até lá vai continuar no mesmo ritmo atual.

— Até dia 17, a caneta estará na minha mão. Enquanto houver bambu, haverá flechas – afirmou o procurador.

Para o procurador, a mala com R$ 500 mil que o deputado foi flagrado carregando, ‘já diz tudo’.

— Houve a decretação da prisão cautelar que estava em curso de cometimento de crime. Mas o STF chegou à conclusão que a cautelar já tinha surtido efeito e houve a revogação. Isso faz parte do processo, cada um tem seu entendimento jurídico. Posso não concordar, mas faz parte do processo – afirmou Janot, que participou do 12º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo promovido pela Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo investigativo) em São Paulo. Janot proferiu a palestra: “Desafios no Combate à Corrupção: A operação Lava Jato, a fala foi mediada pela jornalista Renata Lo Prete, da Globonews. As informações são de O Globo.

Na sexta-feira, o ministro Luiz Edson Fachin mandou soltar Rocha Loures, determinando o uso de tornozeleira eletrônica. Loures foi libertado neste sábado.

Janot elogiou, entretanto, outra decisão do Supremo que validou a delação premiada dos controladores da JBS. Para ele, esta decisão foi um ponto de inflexão no uso da delação premiada no país.

— Foi um ponto de inflexão no uso dessa instituição no Brasil (a delação premiada), que já foi estada em outros país, mas ainda é nova no Brasil – afirmou.

Janot disse que fazer a denúncia contra o presidente da República, Michel Temer, por corrupção passiva não lhe deu prazer, mas que isso faz parte do cargo. Sobre as críticas de que a denúncia não está bem fundamentada e que não há provas suficientes, Janot recorreu a um ditado antigo dentro da procuradoria.

‘PROVA SATÂNICA’

— Não é possível que para eu pegar um picareta, tenha que tirar uma fotografia dele pegando a carteira do bolso de outro. Ninguém vai passar este recibo. Isso é um tipo de prova satânica, quase impossível. Tem que se olhar a narrativa e ela tem indícios de que é preciso instaurar um processo de produzir provas — afirmou Janot, que justificou que quando se oferece a denúncia, não se oferece um caderno de provas.

— A narrativa é de uma clareza tão grande. Duvido que se fosse em outro caso a denúncia não fosse recebida — disse.

Sobre as críticas em relação à imunidade concedida aos irmãos Joesley e Wesley Batista, em sua delação premiada, Janot afirmou que sem a delação não teria provas e sem provas não poderia fazer nada.

— Não poderia deixar o crime em curso, cometido por altas autoridades, continuar acontecendo. Não posso fingir que não vi. Eu tenho o monopólio da investigação. Se não tivesse dado a imunidade não tinha delação e o crime não cessaria. Estou com a consciência tranquila — garantiu ele, ressaltando que se aparecerem atos ilícitos cometidos antes ou após a delação, que não estejam descritos no processo, o acordo está quebrado.

Janot não disse quando fará novas denúncias contra o presidente Temer, mas que há duas linhas de investigação: de formação de quadrilha e obstrução da justiça.

— Ambas as investigações têm vida própria. Mas uma está mais adiantada que a outra.

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