Eduardo Cunha se tornou o ‘principal advogado’ de Temer, diz Renan Calheiros

Michel Temer, Renan Calheiros e Eduardo Cunha

Na política existe um ditado conhecido como “Lei de Murici”: na hora do perigo, cada um que cuide de si. Para o ex-presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL), o correligionário Eduardo Cunha, que comandou a Câmara entre 2015 e 2016, deixou de lado esta máxima nas últimas semanas, ao se converter no principal defensor do presidente Michel Temer (também do PMDB) contra as investigações e as acusações dos delatores da operação Lava Jato.

Murici é também a terra natal do senador, na zona da mata alagoana, além de designar uma planta típica do Nordeste brasileiro.

Entre outras coisas, ele se refere ao fato de Cunha ter isentado o presidente das acusações feitas pelo operador do mercado financeiro e delator Lúcio Funaro em depoimento à Justiça Federal em Brasília no dia 6 de novembro. Para Renan, o ex-presidente da Câmara passou os últimos 30 dias em Brasília “para fazer a defesa de Michel Temer de corpo presente”. Preso desde outubro de 2016, o ex-deputado é alvo de diversos processos na Lava Jato. As informações são da BBC Brasil.

“Essa situação (menção ao presidente na delação de Funaro) é mais uma tentativa dele querer mostrar importância. Lúcio Funaro nunca teve acesso a Michel Temer. Ele fala, na sua delação, que teve três encontros com Michel Temer (…). Esses três que ele cita, ele nunca teve (contato com o peemedebista). Na minha frente, ele nunca cumprimentou o Michel Temer”, disse Cunha no depoimento.

A possibilidade de nomeação do deputado federal Carlos Marun (PMDB-MS) para o cargo de ministro da Secretaria de Governo significaria a chegada de “mais um” representante do ex-presidente da Câmara ao núcleo do governo, afirma Renan.

“É uma coisa corajosa do presidente. Mas pouco criativa, porque continua a privilegiar intermediários”, disse Calheiros, que, desde que deixou o comando do Senado, vem buscando se distanciar do governo Temer, sobretudo na tramitação de medidas impopulares, como as reformas trabalhista e a da Previdência.

Políticos governistas mencionaram a possível nomeação de Marun durante todo o dia de ontem, e o governo chegou a postar por engano em uma rede social que ele seria empossado no cargo. Mas o Palácio do Planalto não confirmou oficialmente a escolha.

Renan, ele mesmo investigado na Lava Jato, falou brevemente à BBC Brasil por telefone, na noite desta quarta feira. Na conversa, ele fala ainda a nova proposta do governo para a Reforma da Previdência e a possível candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

BBC Brasil – O que significa a quase nomeação de Carlos Marun (PMDB-MS) para o cargo de ministro da Secretaria de Governo?

Renan Calheiros – O Eduardo Cunha exerceu muita influência na formação do governo. Ele continuou a dar as cartas mesmo depois de preso. A Justiça teve que encurtar a sua permanência em Brasília, onde ele passou os últimos 30 dias para fazer a defesa do presidente Michel Temer de corpo presente.

Então nós tivemos nos últimos dias uma evolução. Ele saiu da condição de alguém cujo silêncio estava sendo administrado para alguém que admitiu fazer uma delação, e (depois) recuou para fazer a defesa do presidente.

A nomeação do (deputado Carlos) Marun é a continuidade desse processo. Como eu disse, é uma coisa corajosa do presidente (Michel Temer). Mas pouco criativa, porque continua a prestigiar intermediários.

Ora, foi o Marun que, recebido em Curitiba por ele (Cunha) trouxe o nome do (deputado) Osmar Serraglio (PMDB-RS), que foi nomeado ministro da Justiça, depois substituído por este que está no cargo (Torquato Jardim).

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