Delegado do inquérito dos portos contra Temer, é o mesmo que investigou ‘quadrilhão’ do PMDB

A tensão no governo em torno do inquérito sobre o suposto envolvimento do presidente Michel Temer e dirigentes da Rodrimar com corrupção relacionada ao decreto dos portos tem um motivo específico: o delegado Cleyber Malta Lopes, que está à frente das investigações. Com 15 anos de carreira, quatro deles na divisão de Contrainteligência — o terreno mais espinhoso da Polícia Federal, que investiga os próprios policiais —, Lopes deu sucessivos sinais de que não se dobra a pressões, nem se comove com a influência de autoridades por ele investigadas.

Em Tocantins, foi ele quem comandou a operação que resultou em mandados de condução coercitiva do governador Marcelo Miranda (PMDB) em pleno exercício do cargo e do ex-governador Siqueira Campos, dois dos maiores mandachuvas locais. Isso aconteceu em novembro de 2016, durante a chamada Operação Reis do Gado. Naquele período, o trem da Lava-Jato seguia a todo vapor país afora e, de certa forma, tirava a atenção de outras operações. Mesmo assim, Lopes veio a público acusar o governador e alguns familiares dele de acumular indevidamente uma fortuna de R$ 200 milhões. Os citados sempre negaram suas participações em crimes. As informações são de O Globo.

Em 2017, chamado para formar a equipe do Grupo de Inquéritos Especiais (Ginq), em Brasília, o delegado Cleyber Lopes não fez por menos. Ele e o colega Marlon Oliveira Cajado investigaram o chamado quadrilhão do PMDB da Câmara e, ao final, apontaram o envolvimento do presidente da República com organização criminosa, na mesma linha da denúncia formulada contra Michel Temer pelo então procurador-geral, Rodrigo Janot. A denúncia foi barrada pelos aliados do presidente na Câmara. O caso só poderá ser retomado depois que Temer deixar o Planalto.

Mas, mesmo assim, a decisão de Lopes e Cajado lastreou a denúncia de Janot e tirou peso da vitimização do presidente. No período, Temer dizia que as acusações não tinham credibilidade porque o então procurador-geral estava interessado na derrubada dele por motivos pessoais. A partir daquele momento, o enfoque mudou. Afinal, era a Polícia Federal, um órgão vinculado ao Ministério da Justiça, que sustentava com todas as letras o envolvimento do presidente com uma organização especializada em negociar decisões na Câmara dos Deputados.

Essa e outras investigações tiveram ampla repercussão. Mas, discreto, o delegado era quase um anônimo entre os colegas do Ginq, mesmo estando à frente do inquérito sobre Temer, a investigação mais destacada da PF neste início de ano. A situação só mudou quando, numa entrevista recente à agência Reuters, o diretor da PF, Fernando Segovia, levantou a hipótese de punição de Lopes pelas 50 perguntas que ele fizera a Temer no curso do inquérito da Rodrimar.

Segovia disse que, se o presidente fizesse reclamação formal, o delegado estaria sujeito a uma eventual punição. Falou também que não havia indícios de corrupção e que certamente o inquérito seria arquivado em breve. A ideia de que Segovia estaria jogando o peso da direção-geral contra um delegado provocou forte reação de líderes da polícia e de delegados do próprio Ginq. Lopes, que estava no exterior, retornou ao Brasil na segunda, mas não se abalou com os comentários do diretor.

Com o respaldo do chefe imediato, Josélio Azevedo, e de parceiros, Lopes disse a um colega que continuaria tocando as investigações sobre Temer com naturalidade, sem se importar com eventuais reações de quem quer que seja. Na conversa, ele teria deixado claro também que poderia até ser preso quem se intrometesse de alguma forma em inquérito criminal.

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