Concessão da raspadinha atrai três multinacionais do setor de jogos

Movimentação em casa lotérica na capital paulista

Previsto para meados de dezembro, o leilão da concessão da Lotex, estatal de loterias instantâneas conhecida como raspadinha, já atrai o interesse de três multinacionais do setor de jogos.

A britânica IGT, a grega Intralot e americana Scientific Games estão acompanhando o processo que vai a audiência pública na terça (26).

Além do serviço de operação de loterias, as empresas atuam em segmentos como gestão de apostas esportivas, slot machines, tecnologia e desenvolvimento de jogos.

Listada na Bolsa de Nova York, a IGT se declara a maior do mundo. Ela mantém um escritório em São Paulo, à espera da retomada dos negócios suspensos desde a proibição dos bingos em 2004. É sócia da Gtech, que foi alvo da CPI dos Bingos à época.

Procurada, a IGT admite interesse na Lotex, mas ressalva que ainda são estudos. “A IGT é uma forte candidata, mas ainda não temos decisão final sobre a participação nessa licitação, pois estamos analisando as condições que acabam de ser publicadas”, afirma a IGT International, em nota.

A resolução em que o governo determinou o lance mínimo de R$ 1 bilhão pelo direito de explorar a Lotex foi publicada no dia 1º deste mês. O governo espera que a estatal possa ser concedida por até R$ 2 bilhões. As informações são de JOANA CUNHA, Folha de São Paulo.

A Intralot, que está em mais de 50 países, já atua no Brasil em um contrato com a loteria de Minas Gerais.

Sergio Alvarenga, presidente da Intralot Brasil, confirma intenção de participar.

“Somos uma multinacional com capital em Bolsa, exatamente neste modelo de concessão, com regulação do poder público em diversas modalidades”, diz ele.

A americana Scientific Games não se manifestou.

Uma quarta empresa de porte relevante no setor é a fornecedora de bilhetes canadense Pollard Banknote, mas não tem sondado o mercado.

Ela é citada nos estudos de viabilidade técnica do governo como uma das três empresas que concentram 80% do faturamento do mercado mundial de loterias instantâneas -ao lado da Scientific Games e da IGT-GTech. Procurada, a Pollard diz que não abre dados estratégicos.

REQUISITOS

Para se candidatar à concessão, os participantes devem ter experiência na operação de serviço de loteria instantânea e receita mensal bruta, da venda de bilhetes físicos ou apostas virtuais, de R$ 100 milhões ou mais.

Tarcísio de Freitas, secretário de projetos do PPI (Programa de Parceria em Investimentos, que aprovou a concessão), diz esperar um bom resultado ao fim do processo.

Sem citar nomes, Freitas disse à Folha que esteve com advogados que representam grandes empresas do setor. A proposta de concessão da Lotex se mostrou atrativa.

“Não adianta querer vender o que o mercado não quer comprar”, disse.

Durante os estudos para definir o futuro da Lotex, a Caixa, que opera diversos jogos lotéricos, queria controlar a empresa para depois privatizá-la. Mas o Ministério da Fazenda, contrário à ideia, venceu a disputa decidindo fazer leilão para que ela seja administrada via concessão.

“Os caras disseram o seguinte: não compro loteria com participação da Caixa. Vou ter no meu conselho um concorrente? Ela vai participar das decisões estratégicas e tem um produto que é concorrente ao meu. Então não compro. Se o estudo mostrou que o melhor modelo da venda da Lotex era tirando [a Caixa], então foi essa a decisão tomada”, disse Freitas.

Para o advogado Luiz Felipe Maia, do escritório FYMSA, especialista no tema, “a decisão de manter a Caixa fora da operação foi interpretada pelo setor como sinal de abertura à iniciativa privada”.

Além da loteria, a indústria mundial de jogos tem hoje os olhos voltados para o país em outra frente. Tramitam no Congresso dois projetos de lei que visam legalizar no Brasil jogos de azar como cassinos, bingo e jogo do bicho. Hoje, o Brasil também permite a exploração de jogos como pôquer e corridas de cavalo.

As expectativas estavam altas no ano passado. Grandes competidores globais ensaiaram algumas “apostas”: sondaram imóveis para se instalar e visitaram Brasília. No primeiro semestre deste ano, porém, a crise política e a agenda de reformas deixaram o jogo em segundo plano.

Magno de Sousa, presidente do Instituto Brasileiro Jogo Legal, que defende a causa, diz que a esperança do setor voltou nos últimos meses.

“O relator do projeto no Senado protocolou parecer favorável na Comissão de Constituição e Justiça. Na Câmara, tivemos sinalização do presidente Rodrigo Maia que ficou de discutir o tema com líderes partidários”, diz Sousa.

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