A lambança do IBOPE


Por Ricardo Noblat  – VEJA

No dia 29 de agosto, o IBOPE registrou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pesquisa sobre intenção de votos nos candidatos a presidente da República contratada pela Rede Globo de Televisão e o jornal O Estado de S. Paulo.

Como das vezes anteriores, seriam apresentados aos entrevistados dois cenários – um com Lula candidato, outro com Fernando Haddad. Ocorre que na madrugada do último sábado, dia 1º, o TSE negou o pedido de registro da candidatura de Lula.

Não só. Mandou retirar o nome de Lula da programação da urna eletrônica de votação, proibiu a Lula a prática de atos de campanha, incluindo a veiculação de propaganda no rádio e na televisão, e deu ao PT prazo de 10 dias para que indicasse novo candidato.

Que fez o IBOPE então? Diz que por causa disso só testou na pesquisa o cenário sem Lula. Quis “se por de acordo com o julgamento e as determinações do tribunal”. Ontem à tarde, porém, consultou o TSE em busca de aval para divulgar os resultados.

Até o meio da madrugada de hoje, o tribunal não havia respondido à consulta. Não sei se responderá. E não sei por que deveria responder. Onde está escrito que instituto de pesquisa não pode pesquisar o que quiser?

Pesquisa não é ato de campanha. Poderá ser usada por partidos como se ato fosse, mas não é. Pesquisa de intenção de votos serve para informar ao cidadão como evoluem as chances dos candidatos capazes ou não de merecer o seu voto.

É uma informação de utilidade pública como outra qualquer. Não está sujeita à censura prévia porque não estamos em um Estado de exceção. De resto, se o IBOPE tinha dúvidas, por que não adiou a aplicação da pesquisa como fez o Datafolha?

Se dúvida havia, e se achava necessário consultar o tribunal a respeito, por que não testou os dois cenários para só depois decidir o que fazer? Ao fim e ao cabo, o erro original do IBOPE e dos demais institutos foi o de tratar Lula como candidato.

Onde um fora da lei, de lei sancionada por ele mesmo, condenado e preso, poderia ser candidato?

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