Antes de aval relâmpago de financiamento à JBS, Joesley se encontrou com o presidente do BNDES

Registros de entrada da sede do BNDES no Rio mostram que o empresário Joesley Batista, dono da JBS, esteve no gabinete do então presidente do banco, Luciano Coutinho, às vésperas de decisões controversas sobre duas operações que teriam provocado prejuízo de R$ 711 milhões à instituição financeira, nos cálculos do Tribunal de Contas da União (TCU). Os dados foram obtidos pelo GLOBO por meio da Lei de Acesso à Informação. Em sua delação, Joesley afirma não ter negociado propina com Coutinho ou funcionários do banco, mas diz ter feito pagamentos de US$ 150 milhões ao PT acertados com o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega.

Uma das operações questionadas pelo TCU trata da liberação de R$ 1,1 bilhão para o grupo de Joesley adquirir uma empresa de carnes americana, a National Beef, a australiana Tasman Group e a divisão de carnes da Smithfield Beef Group. O apoio foi pedido em 11 de fevereiro de 2008. Nove dias depois, o enquadramento da operação já foi feito pela área técnica e, no dia 4 de março, a diretoria aprovou o aporte. Em um relatório sobre o caso, o TCU observou que essa tramitação em 22 dias é fora do padrão do BNDES, que demoraria, em média, 210 dias para realizar esse tipo de operação.

Os dados obtidos pelo GLOBO mostram que Joesley esteve na presidência do BNDES no dia 14 de fevereiro, três dias depois de o pedido ter sido efetivado e durante a tramitação relâmpago do aporte. De acordo com o registro, ele foi ao gabinete que era ocupado por Coutinho no Rio e ficou no local das 14h54m às 17h07m. As informações são de O Globo.

O dinheiro foi liberado, mas, após sinalizações de autoridades americanas de que a compra da National Beef não seria aprovada, a JBS desistiu da aquisição. O BNDES, então, não solicitou a devolução dos recursos, mantendo o dinheiro aportado na companhia para futuras compras. Para os técnicos do TCU, o banco errou ao ter deixado os recursos com a empresa dos irmãos Batista.

“Vale lembrar que a BNDESPar investe recursos públicos que devem atender a determinada finalidade pública. Se não são utilizados, devem retornar aos cofres do banco para que outros fins públicos sejam alcançados e não permanecer em empresa privada, sem destinação específica, visando ao seu exclusivo benefício”, afirmam os técnicos.

Outra operação que teria provocado prejuízos ao BNDES teve o enquadramento aprovado com base apenas numa apresentação de PowerPoint, de acordo com os técnicos do TCU. Tal fato ocorreu no dia 24 de novembro de 2009. Cinco dias antes, Joesley esteve no gabinete de Coutinho no Rio. Na ocasião, os registros informam que ele teria ficado por apenas seis minutos. A operação foi aprovada pela diretoria em 22 de dezembro do mesmo ano.

Nesse caso, os recursos foram liberados para a compra da americana Pilgrim’s e a fusão com o grupo Bertin. Foram emitidos R$ 3,47 bilhões em debêntures para dar o aporte financeiro. O contrato previa que eles seriam convertidos em ações quando a JBS fizesse sua abertura de capital nos Estados Unidos, o que nunca ocorreu. Após diversos aditivos, o banco aceitou receber de outra forma tendo prejuízo, de acordo com os técnicos, por não ter sequer cobrado uma multa prevista em contrato de 10% da operação.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.